quarta-feira, 20 de julho de 2011

cartas à chuva


Sozinha, ao fundo da sala, sentada à mesa de um restaurante qualquer, olho para a jarra de água com a flor de pétalas vermelhas, da mesma cor que o batom que tinha nos lábios. 
Ao recordar memórias gastas, deito a última lágrima da noite, como o último pedaço da minha sobremesa e dou o meu último soluço, enquanto limpo a boca, no guardanapo de papel.
Estou farta que me mintas!; farta que me trates como se fosse Rainha do Mundo!; farta que me exijas a Perfeição da Natureza e eu só te consiga dar uma pétala morta do chão.
Dá-me água, dá-me luz! Não a saliva das tuas mentiras, nem o teu sorriso artificial. Por tua causa, sequei e já nem tenho mais lágrimas para chorar. Desiludiste-me, mas… Sinceramente? Já estava à espera.
Pára de mentir! Para quê promessas de pétalas, tão leves e frágeis? que, quando se despegam da flor, voam para o regresso do nunca mais... Tal como a chuva, que começa no topo quando cai sobre as pétalas. Tu estavas lá em cima, também. Mas isso era dantes. Depois, as gotas vão caindo, escorrendo pelo caule, até ficarem por debaixo do chão. Sim, é aí que estás agora.

Antes eras a água que me alimentava e eu o ar que respiravas.
Agora, sou só um guardanapo usado e tu, uma marca de batom.

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