sábado, 9 de julho de 2011

escuro

acende uma vela com a resina do teu respirar. 
fala baixinho como se um bebé tivesse adormecido, sozinho, no escuro.
saca do isqueiro e GRITA com os teus instintos. 
acende, agora, os teus cabelos e faz a tua mente brilhar.
fios de fogo, fios de luz, e... não, não tenho medo. já não está escuro.
                       pois        a              lua
                                                                         descaiu          dois
                                                                                                                   centímetros
e já não consegue voltar ao lugar, porque a força da gravidade dos teus desejos é suja, como as palavras que dizes sem pensar.
e depois o vento  s o  p  r  a ,  revoltado com não-sei-quê, como uma inspiração sem lógica que não nos deixa adormecer... (não é que não goste do vento. só não gosto das suas encenações de fuga que depois enquadra em pretextos de cansaço geográfico. não gosto de mentiras.)
despe a tua capa de luz e queima a tua máscara de cera, que eu vou adormecer o pequenino que crava as unhas na minha pele para adormecer. não me importo.
fecha os olhos e adormece... tu que ainda não conheces o mundo, não tens razão para chorar. não, não chores desse sal que te corrói. eu canto-te a canção de embalar que a minha mãe me cantava antes de adormecer. (às vezes ainda a ouço, baixinho, no fim do corredor escuro, quando me levanto, a meio da noite, depois de ela me dar um beijo de boas-noites antes de se despedir de mim para sempre.)
agora, tira o elástico azul-petróleo do pulso cortado e ata o cabelo. não gosto de o ver solto e perdido, a voar... foi assim que a minha mãe morreu: 

suicídio. 
nono andar.

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